7.2.25

Espelho meu



Lembro-me, na adolescência, de me olhar no espelho e de só reparar no que estava errado com o cabelo, com o nariz, com a barriga. Olho agora fotografias desse tempo que não volta mais e só vejo frescura e beleza. Isto aparece-me como universal, acontece com todas as minhas amigas. Talvez sejamos nós geneticamemte  programadas para nos olharmos de cima, ou os nossos pares são duros connosco no secundário, ou, como muito já se disse, a sociedade nos transmite um ideal que nos frustra. Não sei o que gera esta distorção. Este tema é banal, já foi debatido mil vezes. Não é sobre esta realidade que escrevo hoje. Porque não é neste lugar em que vivo agora.

Este é um tema estranho, não falo dele com à vontade, não me são naturais as selfies, prefiro estar do outro lado da câmara, fui educada para sentir como uma fraqueza esta questão superficial da beleza exterior. Mas o mundo de fora devolve-me espelhos em permanência e seria hipócrita dizer que não me importo com a imagem. Afinal, todos os dias alguém me fala de como me apresento. "Apesar da minha idade".

E é aqui que eu estou hoje, nesse "apesar".

Hoje, vejo-me ao espelho e procuro o que está bem em mim. Talvez seja isto a maturidade, a procura da beleza. Talvez seja esta ilusão selectiva, esta distorção finalmente a nosso favor, a vantagem de se ser velha. Deixar a pele antiga da vitimização. Largar a miopia que nos forçava a ver os defeitos microscópicos e olhar para o todo, que ainda não caiu, e para a vida que ainda pulsa em nós. 

A culpa nunca foi dos espelhos e a graça nunca foi dos corpos. Sempre foi escolha nossa ver o que queremos ver, procurar o que damos importância, que seja agora encontrar o que mais no convém. 

Dizem que quem ama, até o feio bonito lhe parece. Amemo-nos, senhoras.

Amem.


Outros espelhos: 

Panados e arroz de tomate

Gralha Dixit

Azul Turquesa

Boas intenções

A Gata Christie


 








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