12.7.13

Um emaranhado


Os turistas no cacilheiro a fotografar Lisboa, o Tejo e tudo.
Não me lembro se alguma vez esta viagem, feita para ser banal, se tornou sem sentido e automática. Mesmo quando atravessava o Tejo duas, quatro vezes por dia, universidade-casa-trabalho-bairro alto, este rio ajudava-me a sair daquilo que às vezes chamamos de vida. De dia a dia.
Ar, espaço. Fosse um autor de best sellers famoso e agora escrevia que este rio me dava vida. Deixemo-nos de lamechices.
Se alguma vez publicar um livro, será de auto-ajuda. Minha. Vou propor-me como exercício colocar-se um rio no meio das vidas. Porque é útil e funcional. Como uma boa poesia. A base da pirâmide de Maslow, portanto.
Uma vida em França cortada por estas férias, uma maternidade intensa transformada numa adolescência tardia e leve, por avós amantíssimos, uma relação amorosa que ganha contornos de livros de Arlequim, os suspiros e as longas conversas ao telefone.
Uma existência fora da caixa durante quase dois meses.
A mim, um rio.

Por isso, quando o meu primeiro blind date deste Verão me disse que não levasse nada o carro, que me ia buscar aos barcos, eu não protestei. Como não reclamei quando não me deixou ficar sem sapatos na foto da histoire de pieds (55). Como me deixei levar quando traduzíamos à letra expressões francesas. Como não resisti quando me propôs mais um sétimo copo cheio de vertigens.
Com este rio por perto eu estou por tudo.
Isso e correr pelo Cais do Sodré para apanhar o das 1:20.

10 comentários:

  1. Ahhh, se isto não são umas belas férias, não sei do que se trata.
    Proponho uma obra conjunta do Tejo: cada autor escreve (e auto-ajuda-se) sobre a sua experiência do rio-vida. Mais alguém já se banhou naquelas águas em Janeiro?

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    1. Trata-se de uma experiência descontínua. Toda uma outra história. Um dia desenvolvo.
      Eu por mim, estou dentro, vou agora falar com uma amiga minha que caiu no Tejo à noite quando vinha dos bares underground - que a ASAE desconhecia - e depois não conseguia subir nos pontões por causa dos musgos. E depois como entrou coberta de algas chamar os amigos para ir para casa. Acho que houve punks traumatizados e tudo. Mas não foi em Janeiro, por isso, podes avançar com este tema em exclusivo.

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  2. blind date :) ahahah
    pronta para mais uma noite vertigionosa? (sem ser a de hoje... pronto, e todas as noites das ferias)

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  3. "you're my river running high
    run deep run wild" ;)

    http://www.youtube.com/watch?v=HAN3d8-aMLM

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  4. :)
    este rio tb me encanta!
    e quando me afasto a saudade é mais q muita!

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    1. Havemos de combinar um mergulho. Deixa passar esta fase das alergias. E o resto de espírito crítico que ainda me resta.

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    2. e porque não?! :) quem sabe se o destino (caso exista) não nos prega uma partida :)

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    3. Eu acredito mais em pregar partidas ao destino :)

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