3.12.12
Toma um comprimido, toma uma caixa
Não sei de que instinto de sobrevivência vem este pudor em expor as partes menos boas da existência. Não sei o que se ganha realmente a guardar tudo o que se passou de errado. Não sei se é preciso coragem. Não sei se é preciso falta de reflexão. Não sei se é preciso retenção. Não sei.
Sei que a partilha pode reconfortar outras pessoas. E pode ajudar-nos a nós.
Se na era do Neederthal podia ser fatal, hoje, pode ser esta troca de fragilidades a salvar, ou pelo menos a dar um jeitinho, à espécie humana.
...
Há um ano atrás, este blogue mudou de nome, os meus filhos mudaram de rotina, eu mudei de vida. Há um ano atrás eu ía ser livre. E feliz, como rezam certos perfis no facebook e outras conversas em bares de início de noite.
Em Setembro do ano passado, os meus filhos entraram para a escola e passaram a dormir a noite inteira, comportamento considerado como uma original bizarria até então. E eu julguei que nada me podia parar.
E não parou.
Durante 2 meses.
De Setembro a Novembro, todos os dias um arco íris, mesmo se não houvesse uma gota de humidade e o meu cabelo esticado não precisasse de retoque durante 3 dias. Fiz e aconteci e agora é que ía ser.
Continuando com a metáfora meteorologica, depois seguiu-se a instabilidade atmosférica, a humidade foi mais que muita e o ar quente subiu.
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Filhos finalmente a mostrar motivação para a racionabilidade, namorado-pai-dos-ditos como nos filmes nórdicos a cores, nenhum problema de saúde a assinalar, e zero pressão externa para fazer seja o que for.
E eu perdida no intervalo entre a vida de antes e a vida do depois. Um limbo profundo. Uma desordem. Uma auto-estima a níveis microscópicos. Não, mais pequenos. Nada me apetecia e forçar-me a seja o que for, só piorava as coisas.
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No espelho, via alguém que não conseguia dar a volta, que não sabia voltar a "ser". Alguém que depois das fraldas, não conseguia voltar à vida anterior, mas também não sabia construir a vida de depois. Que não conseguia conciliar. Voltar a trabalhar seria abandonar os filhos depois da escola, largá-los para os recuperar cansados à noite, deixá-los para serem educados por outros. Não trabalhar seria abandonar-me depois da maternidade. Conciliar parecia um bonito sonho de Verão. Longe, longe da minha realidade.
Ninguém me parecia ter encontrado a vida que me convinha, mas eu tão pouco sabia onde ela estava, hélas, a minha vida estava a acontecer e eu a vê-la desfilar.
Ia perder o meu amor, com toda a certeza, que se fartaria das minhas lamentações, do meu desiquilibrio. Ia queimar o jantar e a semana a seguir. Não ía conseguir. Não ía estar à altura. Não ía conseguir levantar os braços. As minhas costas curvavam-se e juro que esta parte não é uma figura de estilo. Desperdiçava minutos, horas, dias. Não tinha gosto por grande coisa. Via o brilho dos meus filhos, é verdade, e fingia. Essa teoria que os filhos podem ver a mãe a chorar é muito bonita, mas eu sou muito convincente com um nariz vermelho, não consigo resistir. Não dramatizemos mais do que foi, pelo meio, soube viver momentos felizes e maravilhar-me. Nem todos os sorrisos foram forçados. Mas nada era estável.
Sentia a preocupação dos outros, mas não reagia muito mais do que se estivesse a ver um filme. Continuava sentada, imóvel, a sentir ao longe e sempre à espera do genérico. Que, evidentemente, tardava a chegar. E depois durou, durou tanto tempo, que me pareceu que ia ser assim a partir dali. A mim, a eternidade cinzenta ! Podia ir trabalhar, podia ficar em casa para o resto da vida, tanto fazia, seja como for a joie de vivre tinha-se ido. Fui muito fatalista. Parecia uma adolescente a falar do amor perdido. Ia ser para sempre. Só eu é que sabia.
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Tudo e todos melhores que eu. Vidas perfeitas a cruzarem-me no elevador. Mães realizadas, peito para a frente, barriga para trás. Casais amantissimos e carregados de glamour. Beijos na boca com língua por todo o lado e os filhos a jogar à bola sem chatear. Zero interrupções. Camisas passadas a ferro.
O inferno.
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Cheguei a rastejar à porta da médica. Olhou-me com cara de avozinha, deu-me uma receita de anti-depressivos e conselhos de bons psicólogos na zona, uma palmadinha nas costas e um compreensivo "c'est dure...".
Fomos almoçar fora os dois. Lembro-me que bebi cidra e comi dois crèmes brulèes. Estava precisada.
E depois não sei muito bem o que aconteceu. Não tomei comprimido nenhum, jurei a toda a gente que se preocupou que ia ao psicólogo, mas nunca sequer telefonei a marcar consulta. Pedi colo às pessoas do costume. Sai à noite como uma maluca, ri alto, quis lá saber, percebi que nem tudo muda com a idade. Para o bem e para o mal. Depois foi o Natal. Não pedi nada ao pai natal. E tive todos os que precisava perto de mim.
E depois, com o sol - atentem na referência meteorologica como fio condutor - comecei a sentir-me melhor.
Não fiquei com uma maneira de ver a vida cor de rosa. Nem esse seria o objectivo.
Mas neste momento, com os meus problemas, posso eu bem.
...
Já me tinham falado de depressão pós-parto e de depressão quando se deixa de amamentar. Apresento-vos a depressão de quando se deixa de cuidar dos filhos todo o dia, todos os dias, durante cinco anos a fio. Apresento-vos a depressão do vazio que a liberdade pode causar. E a responsabilidade de se viver como um adulto, responsável pela sua felicidade e pela melhor maneira de passar os seus dias.
A quem vive isto, ou já viveu, dois pontos importantes : não estão sozinhas e passa.
Infelizmente não encontrei nenhuma receita particular, nem segui nenhum conselho que vos possa valer.
...
Hoje esteve um dia de porcaria, choveu, fez frio e nunca mais começa a nevar, mas eu vou andado, obrigada.
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Um texto cru, bem escrito. Gostei muito. E sim, passa. Mesmo que leve o seu tempo.
ResponderEliminarum beijinho. :)
:)
EliminarObrigada.
Gosto muito de te ler, Carla!
ResponderEliminarParece incrível, mas a um nível quase imperceptível, tudo muda em nós. É um balançar balançar...
O nível às vezes chega mesmo a ser bastante perceptível.
EliminarFico satisfeita por saber que gostas do que eu escrevo. :)
:)
ResponderEliminarÉ isso, tenho de aprender a pedir colo. Mas é tão mais fácil tomar comprimidos...
Tanta coisa que temos que aprender. Ninguém explica, ninguém explica.
Eliminarand everything's gonna be alright! :)
ResponderEliminarEverything ...
EliminarTudo, tudo, tenho as minhas dúvidas, mas se muita coisa ficar bem, e vai ficar, e está a ficar, já me dou por muito sortuda. Isto, com o tempo tendemos a aceitar as coisas boas como elas nos chegam, ou como as conseguimos conquistar. ;)
Mais um texto daqueles! E o que te posso dizer é que talvez isto aconteça a todas nós, mesmo as que trabalhamos. Porque eu não sei se tive depressão pós parto ou se aquela instabilidade toda eram só as hormonas. Não tive depressão quando deixei de amamentar - foi um alívio. Mas trabalhar horas e horas a fio, como tantas vezes acontece, chegar a casa sem forças, olhar para o meu filho e pensar que me devia sentir encantada e estar cheia de energia para ele e não conseguir, isso sim, acontece-me, muitas vezes. E tantas vezes apetece bater-me. E tantas vezes sorrio de forma forçada. E tantas outras sorrio mesmo, e rio, ao olhar para aqueles olhos brilhantes que outro dia me disseram "calma, minha querida, falamos sobre isso amanhã", enquanto trocávamos de papéis e ele era o pai e nós os filhos.
ResponderEliminarIsto não era suposto ser assim, pois não ?
EliminarAcho que o que me apanhou de surpresa foi estar à espera de finalmente ter a vida que queria e ter-me sentido assim. O tiro pela culatra.
E depois a não-partilha... Tivesse eu lido mais posts assim e talvez me tivesse precavido, mas não, era tudo a viver nas mil maravilhas...
...como entendo esse "vazio da liberdade"!
ResponderEliminarEstou num campo aberto e sem saber para onde caminhar (em 50% dos meus dias, nos outros 50% comando tropas e marco rotas, mas é muito cansativo viver esta dualidade)
Carla, não sei o que se passa mas deves ter andado a ler o meu diário (caso eu o tivesse mesmo). Tenho uma vontáde indómita de te "por a render" como vidente ou simplesmente como porta voz. Pelo que entendo traduzes um sentimento demasiado generalizado e caso haja algum investigador/psicólogo/sociólogo por aí, por favor troque isto por miúdos! Não me contento com a etiqueta "depressão"... (É um defeito meu ter que encontrar respostas para tudo mas infelizmente não saí da idade dos "porquês").
A palavra "depressão" está em todo o lado, é verdade. O ano passado, os meus amigos usaram-na quando lhes contei o que estava a ser, e também me pareceu desajustada. Depois foi a médica, mas eles não têem sempre razão, pois não ? E fiquei a pensar, se tivesse tomado aqueles anti-depressivos e ido ao psicologo, talvez tivesse acontecido tudo na mesma, e agora estaria também mais equilibrada e ficaria a pensar que tinha sido salva por estas receitas...
EliminarE pensar que tem sido assim, de geração em geração, de pessoa em pessoa. É a história da humanidade.
ResponderEliminarSim, mas tem que ser sempre assim ? Não se poderia começar a fazer qualquer coisa a este respeito, qualquer coisa de mais eficaz ?
EliminarAinda bem que sim, que passou. Que Deus e os sistemas de altas e baixas pressões nos dêem a presença de espírito para aceitar que às vezes passamos por isso e não há muito mais a fazer senão esperar que esses dias passem (e saber quando é mesmo preciso droguinhas das boas, que foi para isso que foram inventadas!).
ResponderEliminarGosto muito das droguinhas boas, que gosto. Mas, às vezes, são um tiro ao lado do problema. E depois, chamar estas droguinhas de boas, tem o seu quê ... alguma vez leste os efeitos secundários ? Acredita, não faz sonhar.
EliminarDeixo sorrisos. Por tudo...
ResponderEliminarUi, nesse caso, se calhar devia ter aceite a sugestão de ir ao psi...
EliminarPor aqui mais parece que estou amarrada com uma corda invisível que só me deixa pensar que poderia fazer isto ou aquilo, sem me conseguir mexer para fazer, desperdiçando horas e dias e meses... à quatro anos experimentei os comprimidos e a psicóloga, ajudou na altura, mas a vida nem sempre é aquilo que se idealizou, e não estou a falar de vidas cor de rosa, vai muito mais além disso... e agora de novo mãe, fica-se assim meio adormecida, apática... tenho colo, mas nem sempre ouve o pedido que faço, talvez tenha que falar mais alto! Neste momento acho que o frio me ativou a circulação e a coisa tem dias melhores... é bom saber que nunca se está só. :) Ufa grande desabafo! Obrigada :)
ResponderEliminarFalei do colo, mas não acho que seja suficiente. O que é não sei, mas se fosse apenas de colo que precisassemos, era muito simples. Ajuda, mas não é tudo.
EliminarCompreendo totalmente o sentimento, mas o meu foi despoletado por outras razões, como comentei no FB. Um regresso ao trabalho contrariamente a uma vontade que nunca pensei ter (a que queria ficar em casa mais tempo com o meu filho), mas principalmente, o luto pelo meu pai (que faleceu ainda o meu filho não tinha completado um ano) que teve que esperar para mais tarde e esse mais tarde nunca era oportuno. Até ao dia em que mudei para um emprego bem menos exigente e me vi com imenso tempo e espaço (um gabinete solitário) para pensar nisso, em tudo o que passara, o como se passara, quem eu era, quem queria ser... e o drama chegou exactamente neste ponto... quem é que eu queria ser? quais os meus objectivos, qual o rumo que queria dar à minha vida... a viagem foi uma verdadeira travessia no deserto!
ResponderEliminarE como conseguiste sair dela, sabes ?
EliminarPor muita escrita pessoal, por finalmente ter ficado farta de estar sempre farta de tudo, por perceber que eu não sou a pessoa cinzenta em que me tornara e principalmente por tomar consciência de eu só tinha que me agarrar a um objectivo, por muito pequenino e insignificante que fosse, para retomar o gosto por viver, sempre com a crença de que o resto vem por arrasto.
EliminarMas no fundo é pura e simplesmente uma alteração de um estado de espírito, que só nós conseguimos mudar. Não importa todos os conselhos que nos dão, as frases feitas, os clichés, as tiradas motivacionais. Porque estas têm um efeito pouco duradouro... e também porque finalmente alguém me disse uma coisa e de seguida uma pergunta: "pare de se boicotar!" e "o que é que você quer da vida afinal?!"
A questão importante no meio disto tudo é que esta é uma luta interna de nós connosco mesmas e cabe-nos a nós fazermos a mediação também!
Não sei se me fiz entender?....
Fizeste, fizeste. A solução não vem de fora, os outros podem ajudar, mas somos nós quem nos vai sair da alhada.
EliminarE depois "saber o que queremos na vida", esta é que é a parte mais rebuscada.
E tudo isto é fácil de dizer, quando não estamos num turbilhão de emoções e auto-piedade.
Obrigada Nana.
Obrigada Naná! vou escrever num papelinho essa duas máximas "pare de se boicotar!" e "o que é que você quer da vida afinal?!" Parecem-me geniais e apropriadas!
EliminarE também ja se fazia um post sobre isso, afinal o que é que queremos da vida ?
EliminarO pare de se boicotar foi a chapada na cara maior que eu precisava!
EliminarQuanto ao que queremos da vida, basicamente há muito que percebi que esta questão tem respostas variadas, consoante avançamos pela vida dentro. O que eu queria da vida há 10 anos parece-me agora escasso nos dias que correm... o mal é deixarmos de conseguir ter uma resposta clara a esta pergunta... quando a resposta se torna um encolher de ombros resignado!
E também nos podemos enganar de sonho. Mas deve~se sempre tentar, é verdade, quanto mais não seja para não ficarmos com nada entalado...
EliminarOh:-)
ResponderEliminarPois a maternidade é um deafio, em todas as suas formas. Tu passaste por uma experiência que desconheço, mas de facto não me parece fácil.
Eu por outro lado, luto com o facto de chegar a casa às oito da noite, de não acompanhar a minha filha, e de ter de trabakhar num trabalho de trampa por uns míseros tostões. Enfim...
Mega desafio. Tanta brincadeira com o Nenuco, para depois chegarmos a este tipo de situação... ;)
EliminarEste post hoje acertou-me em cheio no estômago... :(
ResponderEliminarÉ mais fácil dar palmadinhas nas costas e dar colo do que admitir que o precisamos de receber. :(
"No espelho, via alguém que não conseguia dar a volta, que não sabia voltar a "ser"." tal e qual... como quase todo o texto que escreveste. Vou acreditar que passará...é isso que tenho tentado fazer.
Eu não tenho dificuldade nenhuma em pedir colo, nem ajuda. Mas, como disse ali em cima, não é apenas de colo que precisamos... Acreditar que vai passar também ajuda. Mas, mais uma vez, também não me parece que seja apenas assim que se consegue dar a volta à questão...
EliminarCompreendo-te tão bem
ResponderEliminarAcredito. A grande maioria das mães e uma minoria de pais consegue muito bem caminhar nestes sapatos, mesmo que não tenham passado exactamente por tudo.
Eliminarmas voltaste. E este texto és mesmo tu:)
ResponderEliminarIsso é que ja não sei...
EliminarCompreendo perfeitament. A única saída possível tem que ser encontrada por nós.
ResponderEliminarOnde vamos buscar a força para o fazer é algo que ainda hoje me surpreende.
Quero acreditar que o que não nos mata torna-nos mais fortes ...
Gostei muito de ler este texto. Espero que o "ir andando" continue para melhor.
Continua, continua para melhor, obrigada.
EliminarTem que ser encontrada por nos, mas uma ajuda é bem-vinda, muitas vidas se complicam por causa da mania da auto-suficiência. Somos um todo, composto pelo nosso interior, pelo que nos rodeia, e, porque não, pela sorte que nos calha na rifa.
http://umademim.blogspot.ch/2012/12/capotada.html
ResponderEliminarpronto também fui tentar dizer qualquer coisinha......com os putos a gritar atrás e com pouco, muito pouco jeitinho para fazer brotar palavras....mas tentou-se........
Não brinques com o fogo. Não existe por ai associações, ou coisa que te valha, onde as crianças possam ficar com outras crianças durante umas horas por semana, ou de vez em quando, para que possam ver outras realidades e tu possas respirar ? Principalmente no Inverno...
EliminarA resposta está mesmo dentro de nós. É um caminho solitário e não há nada a fazer relativamente a isso.
ResponderEliminarNão sei se tem que ser forçosamente solitario, ha uma parte que se não formos nos a fazer, pura e simplesmente não se faz, mas outra que precisa, ou que se faz melhor com ajuda.
EliminarA solidão é uma coisa que não me assiste. :)
A decisão de bater com os pés no fundo para vir ao de cima é nossa e só nossa e é solitária. Como chegamos a essa decisão é que já depende de cada um! Uns preferem isolar-se, outros preferem rodear-se de amigos, familia, etc.Uns precisam de colo, outros nem tanto.
EliminarSou pos doutorada no caso... e depois das ciaxas de e caixas de drogas que (em boa hora) tomei porque não ia lá de outra maneira, apaziguadas as hormonas em falta (que as havia...a malvada serotonina que a mim tb não me assiste muito), foi mesmo um caminho solitário (mas rodeado de muita gente!) que enfrentei. Hoje sei que encontrei o caminho. Agora é continuar :)
Mas... o meu caso é o contrário. É precisar desesperadamente de tempo para mim, para os meus, para viver a minha vida e não conseguir (MEDO, MUITO MEDO) de dar o passo. Vivo presa a um horário 9-18H que me aniquila completamente.
ResponderEliminar(hoje não me "calo", mas lembrei-me de outra coisa...)
ResponderEliminarAnalisando uma vez mais a tua, perspectiva percebo que eu tinha um problema grande enquanto estava afundada naquela tristeza toda: não tinha com quem partilhar! Toda a gente à minha volta, quando tentei, dizia-me aquilo que eu já sabia, que não tinha razões para estar assim (??), que tinha tudo para estar feliz, que devia agradecer. Sim, eu sei, e depois? Essa conversa só me deita ainda mais abaixo pois sei isso tudo e não CONSIGO. Senti-me a pessoa mais sozinha, incompreendida, ingrata e infeliz do universo. O sentimento de culpa era igualmente gigantesca, como tudo o resto. A grande viragem deu-se quando percebi que pouco interessava o que os outros pensavam, que não tinha que pedir a ninguém aprovações pela minha dor, não tinha que me justificar a ninguém. E queria viver assim? Não. Então tinha que ser eu mudar isso. Ninguém me ia trazer a alegria de volta de bandeja.
:)
EliminarNo fundo, no fundo somos todos seres solitarios.
E a tal partilha apenas é interessante, se a pessoa da frente é compreensiva ou, ainda melhor, ja passou pelo mesmo.
Se não, ainda nos vamos sentir mais isolados. Essa historia do "tens muita sorte, etc" conheço-a muito bem, e fujo a sete pés de quem sei que me vai dar esse tipo de feedback.
Quanto ao passo a dar, é uma questão de pôr as coisas na balança. Posso-te dar uma ideia do que é estar deste lado, mas cada caso é um caso. Pronto, é voltamos ao que dizias, é uma decisão que quem tem que a tomar és tu. Sozinha. Mas de preferência com os outros por perto. ;)
Querida mãe capotada, estou tão enjoada de ler sobre vidas perfeitas que me tocaram muito os teus últimos posts impregnados de humanidade.
ResponderEliminarSempre imaginei que, se me visse numa situação assim, de liberdade, me dedicaria ao voluntariado. Provavelmente, se se concretizasse, seria uma voluntária completamente incompetente e inútil (ja estou a ver um utente da instituição a dar-me palmadinhas nas costas e a passar-me um lenço de papel), mas mantenho esta ideia, assim uma espécie de plano z. Ajudar enquanto derradeiro sentido para a vida.
Perspetivarmo-nos a nós próprias e aceitar que as cores todas fazem parte da (nossa) vida é de uma grande sabedoria. Já lá vai o rosa-choque, mas depois do cinzento virão o verde e o laranja. Acho que estás no bom caminho! Um abraço!
O voluntariado é sem dúvida uma opção, mas tenho que escolher bem. Conheço agora os meus limites e sei que não consigo ajudar em todas as situações, por falta de estômago ou preparação...
EliminarNão sei se passa.
ResponderEliminarUltrapassa-se.
Mas não sei se passa.
Esta fase foi enterrada no final de Dezembro de 2011, caso contrario, teria ido ao psi e teria engolido os comprimidos todos e teria ido para a Índia para um rito iniciático, mesmo que incluísse rapar o cabelos. Viver assim é que não, A vida não tem que ser perfeita, mas temos que ter meios para vivê-la ou dar-lhe a volta e naquela altura senti-me completamente despida.
EliminarAhhhhhhhhhh o pó de Maio tudo cura, freiras da pele, males do coração...Beijinhos (excelente texto, excelente partilha, adorei :* )
ResponderEliminarRita Camões
Pó de Maio ? Ahahahaha ! Devo ser alergica com certeza.
Eliminar" " para o texto. Já passei por isso, sei tão bem. Só não concordo quando dizes que passou. Porque as dúvidas continuam lá, só que o nosso espírito já sossegou mais e aprendeu a viver melhor e aproveitar as benesses que temos ;)
ResponderEliminarQuando digo que passou, refiro-me àquele periodo em que se sente que não se tem pernas para andar. Em que é areia demais para o nosso camião, percebes ?
EliminarNada vai nunca ser perfeito, vamos ter sempre duvidas, e ainda bem, mas agora consigo relativizar, pensar no que quero e escolher o caminho a seguir.
http://diademae.blogspot.pt/2012/12/leitura-para-maes.html
ResponderEliminarSinto-me tão identificada com este texto. Posso partilhar, com a devida referência?
ResponderEliminarNo meu caso, vinha fintando esta depressão há mais de três anos; embora me parecesse ir saindo vitoriosa, caiu-me o mundo em cima dos ombros dois meses depois de o meu filho ter nascido, ao ter de ir trabalhar. Mas foi só quando parei para duas semanas de férias que o peso da bigorna desabou sobre o meu peito. Foi um ano de não me reconhecer, um ano de viver fora de mim, vários anos talvez, a ver a vida passar, à espera da vontade de rir, chorar, sorrir, falar. É bom saber que não estou sozinha.
Fica-se com a impressão que a depressão bateu a muitas portas e que ninguém fala disso, ou muito pouco e em circulos fechados, ficamos com a sensação que fizémos algo errado ou somos menos fortes que os outros. Por isso, claro que podes partilhar com a referência, esta fase da minha vida fooi por mim completamente assumida, por isso, a tornei publica.
EliminarQual é o teu blogue ?
EliminarCarla, o meu blog está fechado, ainda não sei se para sempre. Equacionei reabri-lo com esta nota, mas ainda não sinto chegada a hora. Partilhei o link para o texto via facebook, e espero que não te importes com a mudança de via.
EliminarQuanto ao resto, toda a razão and then some. Eu tenho mesmo a sensação de que sou menos forte que as outras pessoas (pelo menos até ir contactando com estes pólos de identificação vindos de outras mulheres), e há mesmo quem, em determinados meandros, não se coíba de mo fazer sentir. :) Por isso me fez bem ler-te e agradeço-te por isso. Beijinhos
Carla não podes imaginar como me identifico com isto, estou a viver um presente com as mesmas dúvidas e inseguranças apesar da situação ser diferente. Obrigada pela partilha, fez-me tão bem ler isto...
ResponderEliminar:)
EliminarAinda bem que ajudei.
Fazes bem em te rodeares de pessoas amigas e por teres aceite a ajuda de uma psi. Pode ter dado a impressão que era contra, mas apenas não senti necessidade. A recorrer a alguma ajuda profissional, também preferiria alguém que me fizesse pensar do que tomar medicação.
Mas não sou fundamentalista.
O que funcionar é bem-vindo, cada um sabe de si e cada caso é um caso.
Um beijinhos aos teus filhotes e a ti.