26.9.12

No que é que queremos acreditar ?

Já sabia ao que ia quando dei o meu saco ao segurança. Um xis de um raio depois e confirmava-lhe que não me tratava de uma terrorista perigosa. Inocente até prova em contrário, entrei no Hôtel de Ville com uma banda sonora, que me transportou por engano à Eurodisney. Ou de propósito.
Paris, vista por Hollywood.
Uma exposição com Audrey Hepburn por Givenchy. A baguette pelo braço de Woody Allen. A torre eiffel pela pistola de James Bond. A promessa de que sempre será nossa, feita num dia a preto e branco em Casablanca.
Ernest Lubitsh bem que nos avisou : existe a Paris-Paramont, a Paris MGM e a Paris de França. A Paris-Paramount é a mais parisiense das três.

Durante quase duas horas acreditámos que Fred Astaire e Audrey Hepburn conseguiram dançar e a cantar em Paris sem pisar um presente canino, conseguimos esquecer a tensão que existiu este fim de semana nas ruas fechadas com polícia de choque francesa, para evitar que a manifestação não autorizada anti-anti-islão acabasse mal. Esquecemos que continuamos com vontade de ainda acreditar nas promessas de um presidente melhor, que entretanto ainda não avançou para onde se continua à espera - e continua-se à espera em muitos lados. Não nos lembramos que os sem-abrigo começam a ter frio com o fim do Verão, e que os nossos filhos vão para escolas onde os pais não podem entrar, por questões de segurança, nem de todas as urgências sociais que se impacientam na lista de espera. Tudo fora deste parênteses. E sorrimos durante duas horas, sorriso imbecil, mas feliz. Ainda se pode sonhar.
Quando saímos, estranhamos o frio que faz, o céu cinzento.

Faz parte de uma vida que se leva entre o sonho e o que se vive. Que às vezes se mistura e outras nem se tem a certeza que a outra parte dela ainda está lá.
Afinal, alguém sabe qual a parte de sonho e realidade, quando nos manifestamos nestes dias de Setembro à beira mar plantado ?

4 comentários:

  1. A realidade é que a contestação parece ter vindo para ficar e existe uma determinação diferente que me faz sonhar que estamos num momento crítico em que a cidadania vai pôr fim a um sistema velho e caduco e que a nossa sociedade está à beira de uma reformulação profunda!
    Quero sonhar que esta sociedade vai finalmente perceber que só a cidadania activa e participativa é que poderá fazer este país crescer e minimizar o flagelo da austeridade, da especulação financeira e da crise económica.
    Quero sonhar que se está a preparar uma sociedade onde se apuram responsabilidades e se punem exemplarmente os maus gestores do erário público e do património dos contribuintes!

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  2. É muito injusto que não haja mega-produções hollywoodescas de cada pequena cidade e vila por este mundo fora, porque todo o cidadão merece essa visão romantizada do seu poiso. Quanto à onda que se levanta aqui pela Ibéria, eu própria não sei ainda se será só sonho mas vou dando o contributo para a realidade com a minha presença e a minha voz.

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  3. Também não sei se é apenas sonho, ou realiade, ou pesadelo (alguns manifestantes pedem a nossa saída do Euro e nesse caso, receio bem que o sonho azeda ainda mais esta dura realidade).

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  4. Naná, que sonho bonito, que sonho de tanta gente, espero que se torne realidade, por isso vale a pena lutar. We have a dream.

    Muito injusto não haver mega produções sobre a minha vida, também, gostava tanto de me ver em diva.
    Continua a contribuir, Gralha, por favor.

    Filipa, também juro que não é por aí que o meu sonho espera comandar a vida.

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