Hoje é dia da mãe em França. Celebra-se nas lojas, na publicidade e à saída da escola, pelas professoras dos meus filhos. Não faço ideia do que fazer com esta informação. Dou beijinhos pelas prendinhas, como o faria se me tivessem dado noutro dia. Para dizer a verdade, deram-me num outro dia, logo na sexta-feira. Não aguentaram o suspense. Dei-lhes os beijinhos na sexta. Como na quinta, como no sábado. Mas é hoje o dia da mãe. Como se nos outros dias não o fosse também. Sexta, por sua vez, parece que foi dia da criança em Portugal. Como se não fosse todos os dias.
Não sei o que é suposto sentir.
Hoje é dia de museus gratuitos em Paris, e com esta informação já eu sei o que fazer. Invadimos a Orangerie, onde umas japonesas enviavam com dificuldades compreensíveis a palavra mignon em direcção do meu filho, e juntavam-lhe beijinhos e sorrisinhos. Ele não sabe o que fazer a esta informação e vira-lhes a cara. Ainda há-de criar uma aversão asiática a todo este espalhafato turístico à volta dele. Finjo vergonha e ensino-lhes outra palavra útil, pénible. Refiro-me à atitude do meu filho, mas podia-me referir a tanta outra coisa. Tanta outra coisa.
Como não está sol, o jardin des Tuilleries apetece. Não há bichas para o trampolim, nem para o escorrega gigante, pelo que não tenho escrúpulos em deixar as crianças, do dia delas que já lá vai, nem o pai, que há-de também ter o seu dia, e fujo para a livraria Smith. Estou de volta a Londres e às capas tão mais imaginativas, que as versões tão mais sérias francesas. Apetece-me levar tudo, dos livros para crianças, aos livros clássicos para mim, passando por autores que nem nunca ouvi falar mas parecem-me tão apetitosos, e nem sequer estou a falar dos livros de cozinha. Focalizo-me e trago os métodos para ensinar inglês a crianças e uns livros com CD. Sem a voz de Hugh Laurie, tão infelizmente para mim.
Comemora-se os 60 anos de regência da rainha mãe - mais outra informação com a qual não sei o que fazer, mesmo que denote alguma dificuldade em sair da loja sem uma caneca comemorativa.
Não faço ideia do que vão fazer com a informação deste texto. Se toda a gente desatar a escrever, e se toda a gente desatar a ler o que toda a gente escrever, onde diabo se vai arranjar tempo para se viver ? Estranhos tempos, os nossos.
Como conseguiram esse quadro inteiro vazio? Algum de vocês levou antes garrafinhas de mau cheiro (e é para não dizer outra coisa)?
ResponderEliminarE põe-te a ensinar a palavra pénible ao teu filho, põe... Depois é só esperar ele chegar aos 12, 15 anos, e vais ver o que te diz que tu és.
(sim, fala a voz da experiência)
Uma das múltiplas vantagens de se ter crianças "pénibles" é que conseguimos chegar sempre em primeiro lugar. Enquanto o comum dos mortais ainda dorme, já nós estamos a aproveitar a madrugada. Ou um Monet.
ResponderEliminar(Nota, que ensinei esta palavra às japonesas)(mas, sim, ups, mesmo assim)
realmente não sei o que fazer com esta informação. mas gostei de a ler... soube-me bem ;)
ResponderEliminarBom aproveito, nesse caso.
ResponderEliminarEstranhos mesmo!
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