28.6.11

Malas de cartão à parte ou Aquela música interrogativa dos Clash que nos fazia começar aos bicos nas festas na cantina da escola secundária

Uma constante de qualquer alma que parta em direção ao desconhecido, com ou sem nau catrineira, é aquela hora crítica e vacilante, que pode aparecer do nada, em que nos colocamos a questão do bilhete de volta. 7 anos de emigração podem contar vários projetos abandonados de retorno à base, 0 no primeiro ano, 1 no segundo, 10 no terceiro e 567535 por dia quando se tem o primeiro filho.
Armadilhas desta polémica :
- Perguntar a um nativo de terras lusas que nunca emigrou o que acha da questão, a resposta é quase invariavelmente, "epa se eu pudesse também eu emigrava, isto aqui nunca esteve tão mau, amiga" seguido de uma lista que sempre vem recheada com a palavra crise e agora salpicada com as famosas três iniciais aqui e ali. Achamos que afinal é melhor utilizar a pátria mãe apenas como destino de férias e festas, sem questionarmos o "se eu pudesse", se isto não pode ser uma forma excelente de se verem livres de mim, nem os status no facebook onde se fala do bem que se estava na praia. As nossas mães não contam.
- Quando, contra tudo e contra todos, nos decidimos a regressar, normalmente, se formos providos do minímo espírito organizativo elaboramos uma lista de coisas a fazer antes de irmos embora e percebemos que ainda não fizémos nem metade do que seria razoável não passar ao lado antes de abandonar o barco, o projeto de retorno passa a não ser muito urgente até porque sem se fazer mais uma coisinha ou outra vamos achar que falhamos a nossa experiência alter-geográfica.
Muito cuidado.
Ir de férias de Verão dois meses, aproveitar ao máximo tudo o que me faz falta, animar a malta e voltar feliz da vida à experiência fronteiriça, pensando que em vez de revolucionar e mudar tudo, o melhor é fazer mais viagens de ida e volta aqui e ali e matar aquele sentimento que teimamos a chamar português, mas que o cantamos como o faz muito melhor Cesária Evora.
A ver se em Setembro faço um testo cqd ou se deixarei de ter problemas com o teclado azert. A ver.

6 comentários:

  1. a minha experiência de emigrante foi de apenas 3 anos e o regresso foi premeditado, difícil e, agora que já lá vão uns aninhos, gratificante ao nível pessoal e castrador ao nível profissional. Não sei se ajudei!? No final das contas o balanço é muito positivo! (tb tenho os meus dias em q me apetece fugir da pátria e não sei bem para onde!)

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  2. idem à de cima mas adorei o meu regresso e foram 5 anos.

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  3. Baba - Bom, balanço positivo. Ok, ok.Mas porque é que foi dificil ? Questão meramente profissional ? (compreendo perfeitamente a parte do não sei bem para onde)

    E agora para as duas, por isso vai em stéreo : E onde é que estiveram e porque é que foram para fora ? (Ai, a falta que me faz um bom sensus caputansus)

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  4. Já sabes a minha opinião :) Crise? Qual crise? Crise é desbravar doenças e birras de filhos sem ajudas nem com quem desabafar a menos de milhares de quilómetros. Mas, pronto, eu não tenho croissants nem a Torre Eiffel. Tenho bagels e Wal-Marts. Gosto mais de Wal-Marts do que de bagels.

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  5. Mãe capotada - estive a viver em Barcelona, a trabalhar muito mais horas do que alguma vez pensei, mas com um trabalho tão estimulante e gratificante que não me permitia questionar o meu dia-a-dia lá. Contudo, o tempo foi passando e quanto mais tempo ficasse por lá mais difícil seria voltar (a ascensão profissional foi muito rápida e a cada dia que passava tornava-se mais difícil voltar as costas e recomeçar tudo no país natal). O regresso foi difícil, pois as minhas baixas expectativas laborais, ainda assim eram demasiado altas. Agora e aqui, na minha e sempre Lisboa, com esta luz que só ela tem, sei que não voltaria a viver em Barcelona, aqui consigo ter uma outra qualidade de vida (filhos, casa própria, jantares com os amigos, fins-de-semana em casa dos pais e sogros,...) que Barcelona não me deu. Barcelona deu-me: uma experiência de cidade muito boa, uma boa experiência de trabalho e muito bons amigos catalãs.
    (há mais coisas que aqui tenho que não sei bem explicar: um sentimento Sebastianista, de que um dia... "vai acontecer mais qualquer coisa e eu vou estar cá para recebê-la" e que esta terra tem um enorme potencial e que eu tenho de estar por perto e intervir nesse crescimento.)
    Bem... e não me alongo mais, senão isto será uma auto-biografia.
    Suerte! E bom regresso, mesmo que temporário.

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  6. Mais um testemunho de uma ex-ex-patriada, não muito diferente do da Bába: Quando vivia na Alemanha sentia falta do mesmo que todos os ex-patriados portugueses sentem. A nível profissional, voltar significou passar de cavalo para burro (nada contra os burros). A nível pessoal, principalmente familiar, foi o inverso. Não imagino os meus filhos a crescer longe dos meus pais. Teria passado os seus primeiros anos com muito mais dinheiro, mas muito menos apoio.
    Hoje tenho, claro, daqueles momentos de auto-flagelo barra lucidez ("como pudeste ser TÃO idiota e voltar para este país?!") Mas depois vou beber uma bica por 50 cêntimos com vista para o Tejo, apanho um bocado de sol na mona e isso é suficiente para me voltar a convencer barra estupidificar.
    (Mais cliché seria impossível. Credo.)

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