7.4.11

Nos bastidores de uma decisão

Optimista inconsciente, saltei para a maternidade com a mesma disposição com que mergulhei, em tempos idos, no rio opaco de Arganil. Estava a trabalhar, na altura do salto maternal, e não vi porque é que no meu caso não se passaria como com os outros.
Um salto atrás tinham-me explicado que a meteorologia e os laços eram boas razões para não me meter na aventura emigratória - Não és um ganso, afinal de contas !
Ai, o que eu gostava do Nils Holgersson...
Optimista inconsciente, era eu que sabia. E soube. Até ao dia. Ao dia em que tive filhos muito além da ponte 25 de Abril, não estava no deserto do Sahara, mas uns bons mil e setecentos kilómetros me separavam dos braços extra, que me teriam dado e ainda dariam, um jeitaço e uns ombros bem posicionados para lamentar uma noite mal dormida, uma birra mal domada.
E agora ?
Quem me fica com os minúsculos quando estiverem doentes e estiver a trabalhar ?
Quem me dá um jeitinho para ir respirar ?
Quem pode vir aqui explicar-lhes que o avião ali em cima não vem carregadinho de avós, tios e primos ?
Uma razão a acrescentar para ter ficado em casa nos últimos 4 anos. Basicamente ando a substituir o sol, o mar, os avós, os bisas, os tios, os primos, os amigos de infância, os filhos dos amigos de infância, o canal Panda, as bolachas Maria, os parques infantis sem horas para fechar, o cheiro a chouriço quando menos se espera, os gatos, a quantidade extra de chocolate que alguém lhes daria às escondidas e isto e aquilo e acoloutro.

24 comentários:

  1. eu conheço esta história, vivi-a na pele dos teus filhos.
    decisões difíceis que acarretam "danos" colaterais difíceis. irás um dia olha para trás e arrepender do que fizeste, é esperar para ver.
    uma coisa é certa, se antes achava que não vergaria por causa de terceiros, hoje, com filha parida já não o posso dizer.
    já larguei a minha vida automática e agora sou pelo menos 1000 vezes mais feliz.
    é o que se quer!

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  2. Eu não vivo a 1700 km, mas a mais de 300, o que tecnicamente e neste contexto, acaba por ser a mesma coisa! Não tenho a ajuda de ninguém, agora nem do meu marido que anda "perdido" na Ásia há seis meses (e felizmente quase a voltar). Além disso ainda trabalho.. e estou tão cansada, tão cansada... e a começar a arrepender-me! Estou a pensar mudar, no meu caso, deixar de trabalhar fora de casa para poder ser melhor mãe. Será que as coisas estão ligadas? Será que me vou arrepender? Estou cheia de dúvidas, como tu. Acho que não uma ajuda pois não? Desculpa e obrigada. Ajudas-me sempre a refletir!
    Beijinhos grandes.

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  3. :)
    Reli-me neste texto (tás boa?).
    Só se consegue passar por isto de boa vontade, nunca imposto por outrem. Depois é fazer o melhor e esperar que cresçam para se voltar a respirar sem apendices em cima. As ajudas? pois... não há, não tens, não dá. Com sorte, arranjas uma ocupação que te permita ficares em casa qdo um deles estiver doente ou quando as férias (os tais oito 14 meses por ano em que não têm aulas) assim o impuserem. Não é fácil e é muito mas mesmo muito pouco respeitado e eu continuo a achar que é do mais dificil que existe.

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  4. Sof* - "Danos colaterais dificeis". "Vou-me arrepender". "Viveste na pele dos meus filhos". Podes desenvolver, Sofia ? Não sejas tão enigmatica, sou cardiaca !

    Silvia - Ai, outro comentario dificil ... Ajudo-te a refletir ? Ainda bem... acho (?) Se a viagem à Asia vai acabar, vai ficar mais facil. Boa sorte !

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  5. Ême - ;)Bem me parecia que ias saber do que é que eu estava a falar. (Vou andando, obrigada e tu ?) Sim, é mesmo complicado, muito recompensador para quem conta, mas algo perigoso para o nosso futuro, quantas janelas vou encontrar fechadas ?
    O teu curso enche-te as medidas ? Seja como for, não deixa de ser uma boa ideia. Desejo-te sorte !

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  6. Depende. Estás a subsititui o ultimo parágrafo por coisas com valor maior? Então estás bem.
    Voltei a "casa" quando percebi que os contras de estar longe eram superiores aos prós.
    Não me arrependo nadinha. Tenho aqui ao lado a minha mãe e tenho a sorte de ter um emprego em que faltar por assistência à família é um direito adquirido.

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  7. Rita, sejemos sinceras, nunca poderei substituir condignamente as bolachas Maria !

    Por enquanto, a balança ainda não tem uma tendência muito definida, a prova é que este blogue não tem pés nem cabeça, ora estou num anuncio de margarina perfeitinho, ora ando aqui "ao tio, ao tio!". O que arrasta um bocado (muito) qualquer tipo de decisão.

    Agora, compreendo perfeitamente, que estejas bem na tua pele, que tenhas a vida organizada, tudo a correr como querido.
    Ainda por cima és magra e ficas bem na televisão. Ora bolas !

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  8. Eu também estou longe de "casa", mas ainda não cheguei a um arrependimento que me leve a pensar voltar. Só quando ele nasceu percebi as consequências da minha decisão. Quantas vezes pensei "mas que jeito aqui me dava a minha mãe, para que raio me fui armar em independente". Arranjei emprego quando ele fez 3 meses, meti-o num infantário, no primeiro ano foi o pai, à custa de folgas acumuladas, que ficou com ele quando ele ficou doente. Agora, quando é preciso, meto baixa de assistência à familia, que remédio, mesmo sabendo que isso também me pode fechar portas. Acredito que, com um horário "normal", se consegue mesmo sem ajuda, mesmo com um pai que não pode ajudar sempre porque trabalha até à meia-noite. Também sei que as portas se fecham pela falta de disponibilidade para ficar no trabalho até mais tarde, mas prefiro isso a não ver o meu filho. Para "respirar", uso o horário de trabalho ou os dias em que o pai pode ficar com ele (são poucos e eu nem os uso todos, se calhar não faz assim tanta falta).

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  9. Nunca trabalhei em sitios onde houvessem baixas, não sei como é que as mães e os pais faziam, agora que penso nisso... mas seja como for, numa empresa privada, com objectivos de tubarão, para conciliar a vida profissional, com a familiar é preciso muito jogo de cintura, ou muitos planos B.
    Além disso, para mim "respirar", muitas vezes era para ser com o pai ! Hummm... Tou feita, não tou ? Faz falta, faz. A mim, faz !!!

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  10. o teu blog não tem pés nem cabeça? pois discordo! tem tanto sentido, que cada vez que cá venho trago um café e sento-me com calma.
    e vês... até me fizeste agora perceber que raio estou eu a fazer em casa!
    faz falta sim senhora. a mim também faz!

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  11. Em Portugal, desde que estejas no quadro da empresa ou com um contrato, podes meter baixas (não sei como é em França). E sim, as empresas têm objetivos de tubarão e é muito difícil conciliar a familia com o trabalho (por isso é que eu digo que há portas que se fecham por ter de meter baixa ou por não conseguir trabalhar cinco horas para lá do meu horário - ainda ontem trabalhei duas, mas sinto que ninguém valoriza, porque o normal é não poder). Eu também gostava de respirar com o pai, mas à falta de melhor respiro sozinha, que também me faz falta (eu sei que faz falta, estava a ironizar por desperdiçar oportunidades, mas essas oportunidades que tenho de respirar sozinha são as mesmas que tenho de estar com o pai, ainda que tenha de estar com o puto ao mesmo tempo - isto não é fácil, não senhor). Se houver dinheiro podes arranjar uma empregada de confiança, para te arrumar a casa e dar conta dos putos enquanto respiras ou quando ficam doentes - tenho amigas que fazem isso, eu não posso. Ou isso ou faz-te grande amiga de um casal francês onde possas despejar os minúsculos de vez em quando, pelo menos para respirar...

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  12. Rosario - Oh ! Um cafézinho ... Fiz ? Que sirva para alguma coisa, então. Ainda bem. Se calhar, um dia, hei-de encontrar o fio conductor disto tudo, por enquanto parece-me tudo uma grande salganhada de duvidas de toca e foge e, ainda por cima, com tomates à mistura... (?)

    Zuza - Na altura tiravamos fotos não digitais dos saltos, e duas semanas mais tarde, so se via o rio/riacho/ribeira (?) castanho, impossivel de descobrir quem tinha mergulhado e se o tinha feito com elegância ou não. Opaco !

    Charlotte - Deve haver qualquer coisa assim, é capaz, mas a pressão, sobretudo em certas alturas é tão grande que ninguém deveria ir para casa descansada. Aqui existem centros que servem exactamente para isso, para que as mães possam respirar e as crianças conviver, mas é durante o dia e não o deixo muito tempo, se fosse com a avo ... Mas, enfim, sempre vou tendo o Verão, nem me devia estar a queixar (mas estou !!!). E, sim, tenho mesmo que arranjar planos B, para viver exactamente como quero e deixar-me destas lamurias. Que coisa !

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  13. eu quando era piquena vivi no estrangeiro durante 9 anos e a minha mae tb veio para casa. se a via cansada, sinceramente não me recordo, mas certamente que estaria.
    "irás um dia olha para trás e arrepender do que fizeste" - esqueci-me de por um ponto de interrogação (?), ai shame on me, raio da pontuação poe tudo noutro nível.
    os danos colaterais poderás, eventualmente sentir se um dia te sentires cobrada pela situação que escolheste - estar do lado da educação deles vs. a tua profissão/evolução de carreira.
    a minha mãe sentiu isso...

    a parte mais dificil deve ser sem dúvida o não teres aí uma forcinha nas horas de aperto. eu tenho ajudas próximas (35km), mas há dias em que me sinto completamente abananada com tanto que tenho que me desdobrar.
    um dia destes hei-de falar com mamãe sobre os nossos tempos a mail de 1500km de PT.

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  14. Quando toda a gente quer ir embora daqui, tu podias ser a minha manchete desta semana.

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  15. Sof* - Sera que posso enviar umas perguntinhas à tua mãe ? Sera que ela sou eu daqui a uns anos ? Sera ? Sera ? Posso ? Posso ?

    Sophis - Podia ? Se quiseres posso. Mas não sei se havera paralelo entre as motivações que levam actualmente as pessoas a querer sair de Portugal e as que me levaram a mim a emigrar ... Mas posso falar sobre o que é viver no estrangeiro, procurar trabalho, trabalhar, desenrascar-se, enrascar-se, etc.

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  16. Pelo menos aqui temos bolacha Maria :)
    E eu vou voltar a esse sítio de onde todos querem sair!

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  17. desde que voltámos para PT a minha mae regressou ao activo e no inicio gostou imenso, mas nos dias que correm já está fartinha e lamenta-se pelos anos que n trabalhou e que agora tem de compensar por causa da reforma e etc etc. mas depois também há o lado mto positivo em que ainda nova pôde disfrutar da calma do dia-a-dia, de nos ajudar nos trabalhos da escola, podia ir à peças de teatro, essas coisas lindas que nós, os filhos nos lembramos e damos mutio valor - porque a nossa mae estava SEMPRE lá.
    e os teus filhos vão lembrar-se também.

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  18. Gralha - aqui também temos, às vezes, a semana de Portugal, com a bolacha Maria e a Sumol. Mas, nem sempre, nem sempre... Pois, ouvi dizer que era para breve - Acredito que te desenrasques !

    **SOFIA** - No final deste ano, as coisas vão mudar neste blogue e, se tudo correr bem, desenrascar-me-ei para fazer tudo, conseguir um minimo de satisfação profissional e social e assegurar o maximo à saida da escola (ainda não sei ao certo como, mas ... inconsciente e optimista é o meu nome do meio). Ah, pois é ... a reforma ...

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  19. Vivo a 300km de distância e tenho ajudas nas férias deles. É pouco? É muito? É o suficiente? Pois, depende de quem interpreta. A mim sabe-me a pouco, muito pouco. Ao mesmo tempo, tornei-me auto-suficiente, mais só também, mais dura por não ter colo (sim, bolas que os adultos ainda precisam mais de colo do que as criancinhas).

    Sabes do que eu gosto? É de ir pensado "ai e tal, se a minha vida fosse outra"... mas provavelmente também não estaria satisfeita. Porque, mais do que de condições, acho que estamos aqui (pelo menos eu estou)a falar de personalidades, de estados de espírito não momentâneos mas que fazem parte de uma identidade.

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  20. a reforma (e depois do teu link do facebook)...
    quando se fica em casa, pensar na reforma é tramado! é que dás por ti a pensar, então, como vair ser? e a seguir (e se, como eu, não foste agraciada com heranças nem património de família)dás por ti a rezar para que o teu casamento seja daqueles que, contra todas as estatísticas, dura toda a vida e para que o homem que escolheste para pai dos teus filhos, seja mesmo aquela pessoa que tu supões e perceba que não foi o único actor na história que ambos protagonizaram !
    ficar em casa... querida mãe que capotou, é um verdadeiro acto de fé!

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  21. Madame Pirulitos - Também é uma questão de personalidade, é. Se calhar, até mesmo de humanidade, até porque a galinha da vizinha...

    Ai, Rosario, que nem sempre fui uma mulher de fé. Não tenho bem a certeza que estes sapatos sejam para mim a vida toda...

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  22. olha,se estas a precisar de sair com ele para fazerem outra coisa a nao ser ocupar se dos miudos eu posso te tomar conta deles,a serio!!

    nao trabalho as segundas e as quartas...e aos domingos.e estou pertinho de paris!

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