Na manhã do voo para Maputo recebo uma mensagem de um amigo, dizia que ía " à minha terra" passar o fim de semana - queria conselhos. Achei uma coincidência incrível, com certeza iriamos no mesmo avião.
Mas ele ìa a Paris. "A minha terra".
A minha família uniu-se no grupo de WhatsApp para me dizer que eu ía amar "a minha terra", Maputo.
E eu a ler isto tudo na minha casa em Lisboa.
Nunca tive terra.Lembro-me das férias grandes do Verão, dos meus amigos partirem de carro na madrugada para passar uma temporada na terrinha. Nunca soube o que era isso. Na casa dos meus pais sempre se disse que a nossa terra já não existia.
Num almoço com uma amiga que vive numa cidade europeia, especulávamos sobre uma possível terceira guerra mundial e ela dizia que se fossemos invadidos, ela ficaria em casa a ajudar quem precisasse de ajuda na sua terra, que iria lutar, não iria dar tudo de mão beijada. E eu, que gosto tanto de beijos na boca, não consigo compreender quem se bate pela terra. Serei a primeira a fugir em caso de conflito, antes mesmo dos ratos.
Sócrates tinha aquela frase maravilhosa "sou um cidadão do mundo", mas eu nem isso me sinto. Não pertenço a lado nenhum, todos podem entrar e sair de todos os territórios. Pertenço a outras coisas, com certeza. Gosto de pensar, que sim. Gosto de pensar que, às vezes, pertenço a mim.
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