6.2.14

Um dia organizo isto

Ando tão carente de rituais que estou a pensar, seriamente, em festejar o dia dos namorados este ano. Pela segunda vez na minha vida. Não sei se os festejos com mais de vinte anos ainda contam. Caso contrario, sou virgem. Nestas coisas. Praticamente. Ideologicamente.

Fui correr hoje à tarde, começou a chover, continuei a correr. Mas algo mudou, de repente eu era o Rambo numa selva perdida,e senti-me poderosa. Se é que o Rambo alguma vez esteve perdido numa selva, cortada duas vezes por mês por funcionários da câmara e decorada com estátuas de mármore de personagens de mitologia grega. Detalhes. Por aqui, neste mesmo parque, também andou em tempos o Boris Vian. E bolas, o Boris sempre fez mais o meu estilo do que o Sylvester. Para dizer a verdade nunca tive um estilo de homem. Ou de mulher. Naqueles caderninhos dos anos oitenta, as perguntas sobre qual o teu filme preferido - dizia o que tinha gostado no ultimo mês. O clube dos poetas mortos. Achava piada quando me davam um caderninho com as perguntas por responder. Mas nunca encontrei nenhuma resposta. Era esse o meu problema na puberdade, procurar respostas, em vez de apreciar as perguntas. Qual o teu estilo de homem, escrevia com dentes e esperava que não me tirassem do grupo por causa disso. Ainda por cima, nem sequer era verdade.

Tenho andado a ter uma existência banal. A tentar insultar com menos agressividade o senhor que, nos sabados de manhã à hora do MEU mercado, distribui os panfletos para a manifestação para todos, que quer excluir os homossexuais. Putain, encore vous ? 

Não sei muito bem se devo ser mais exigente com os meus filhos, trabalhos de casa, arrumação do quarto, comer com os talheres ou se devo continuar numa de educação freestyle e preparar-me para as consequências que sei que vão chegar mais tarde. Tipo, daqui a 5 minutos. Ou as outras. As tardias. As que fazem medo e tiram o sono à noite a quem tem tendências para a insonia. Eu tenho. Pelo menos entre as 4 e as 5 da manhã. Menos depois do almoço. E agora.

De mim, tenho a certeza que não quero exigir mais nada. Que eu me deixe viver em paz. Estou tão bem assim. Sem resoluções, nem ambições. A deixar andar. Isso é o que eu penso. Estou tão enganada.
Acho que posso concluir que este texto foi escrito no modo sunâmbulo. Não assumo nada. O que torna as coisas bastante mais fáceis. Para a próxima faço um selfie. Fica, assim, então combinado.

11 comentários:

  1. Óptima ideia! A mim também me apetece (todos os dias) deixar para amanhã organizar seja o que for. Incluindo a vida. Mas sinto que não me deixam. Normalmente é quando começa a discussão do tipo "mas porque é que não me deixam? Deixem-me!" digo eu. Não sei se me fiz entender :)

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    1. Um dia vamos todas acabar num sanatorio de loucos. "Deixem-me ! deixem-me !"
      E assim, sim, isso é que vai ser uma diversão ! Não te podes é esquecer da Josephina, acredito que va ser muito feliz (também).

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  2. Um dia vamos descobrimos que as existências banais são as melhores, tenho quase a certeza.

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    1. Continuo com um problema com a palavra banal... mas é apenas uma questão de forma, tenho a certeza.

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  3. "Que eu me deixe viver em paz" merece uma parede :)

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    1. Um dia fui a uma festa de uma pessoa que queria deitar abaixo uma parede, o tema era "as demoliçoes" e a (sua) esperança era poupar nas obras. Ainda houve quem tentasse deitar a parede abaixo, mas era de noite e os vizinhos não perceberam o conceito. Nessa parede podia ter escrito esta frase. Dois dias depois foi abaixo.

      Porque é que eu contei esta historia ? Porque estou com problemas (graves) de rotinas de sono. Vou mazé dormir. Sonhos cor de rosa para quem os quiser.

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    2. bons sonhos. obrigada pela história :)

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  4. Ai a educação freestyle. Tudo nos diz que devemos educar com regras com rotinas que isso dá segurança aos miúdos e os vai ensinar a viver em sociedade. Não consigo seguir essa linha, tento ensinar-lhes que devemos respeitar horários quando temos compromissos por respeito aos outros, que precisam de dormir o suficiente e comer bem. Mas o resto é um pouco deixar andar, nos dias em que o jantar são ataques ao frigorífico e dispensa e dançamos Arcade Fire ou Black Keys enquanto tento arrumar alguma coisa, dizem que sou a melhor mãe do mundo. Acho que vir aqui também ajuda a ser melhor mãe. Obrigada

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    1. Podia e devia se calhar definir o que é educação freestyle para mim. Dava um post e, muito provavelmente, muitas incoerências. Existem sempre regras quando se vive em sociedade, quanto mais não seja as fisiologicas : dormir cedo para se dormir o suficiente, qunado no dia a seguir ha escola, comer equilibrado para se ser saudavel.
      Mas depois existem aquelas outras regras que são opcionais e que vão impedir outras formas de estar, de existirem. São essas que me fazem pensar. Até que ponto quero controlar, sabendo que existe o risco - muito real - de poder estar a castrar ?

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  5. Este post já é um selfie em caracteres. Não me digas que nos vais abandonar e atirar-te ao desleixo do Instagram. Caramba, pá, toda a gente a levar a sério a estória da imagem vale não sei quê de quantas palavras. Vai lá comemorar o S. Valentim, prega uma rasteira a esses panfletários cro-magnon e depois conta-nos tudo como deve ser.

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    1. Estava a brincar, de cada vez que fiz um selfie senti-me tão ridicula que jurei para nunca mais. Entretanto, fiz mais umas dez vezes, que o "nunca mais" também tem muito que se lhe diga.

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