3.2.13

Sala Pleyel, Beethoven para todos


Ia ser perfeito, evidentemente. Seguiria todos os conselhos dos livros, teria intuição para o resto. Bebés nascem todos os dias, todos os minutos, eu iria conseguir saber ser a mãe perfeita, para os meus filhos perfeitos. Essas riquezas.
Seis anos depois, nem sequer me lembro muito bem de como pensava que ia ocupar as minhas tardes sem birras, nem como iria ocupar os meus filhos, sempre consentantes com as minhas ideias de actividades e conversação.
Tenho a leve impressão que por esta altura deveríamos já ter feito a volta ao mundo, aprendido várias línguas e adquirido inúmeras aptidões e artes, tudo em clima de bom entendimento e civilização, of course.
Claramente, o mundo não estava preparado para nós. Nem para essa perfeição demente que tinha projectado.
Nem eu para a realidade. Tantos planos para ser a mãe perfeita, mas os meus filhos obstinam-se em trocar-me as voltas, em dificultar-me a tarefa. Em ser reais.

De vez em quando, temos tréguas. Eu, a minha realidade e o que tinha planeado. Os meus filhos não têm nada contra, não pensam em nada melhor para fazer e aliviam. (...) E eu posso viver, por uns instantes, o meu sonho perdido de maternidade perfeita.

Não era isto que eu queria dizer... O que eu queria que ficasse bem claro, é que eu até sou uma boa mãe. Quando tudo corre bem.

8 comentários:

  1. Pois é, eu é pensava que ia ter uma vida assim, e em vez disso, tenho "apenas" momentos assim. E talvez exactament por esse "apenas" existir dou tanto valor quando tudo corre bem.

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  2. As expectativas... são elas que estragam sempre tudo. Isso e a mania que alguém nos enfiou nas cabecinhas da mãe-dona-de-casa-mulher-profissional-cozinheira-amante-amiga-perfeita.

    Eu, confesso-me, tendo em conta as circunstancias da minha vida não sou a mãe perfeita mas ando lá perto (e eles que me aturem as crises de mau humor, os berros, as impaciências porque eu também aturo os deles :)

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    1. E eu a pensar que era a vida real que estragava sempre tudo ;)
      A minha vida é tão mais fácil virtualmente !

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    2. A vida real não estraga nada...é apenas...real! O problema é metermos nas nossas cabeças que teriamos uma vida perfeita, uma vida que não existe em lado nenhum.

      Existe na Disney :) Talvez daí o nosso amor àquilo!

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  3. adoro. Eu que sou mãe há um ano começo a sentir o mesmo. Quando ela não obedece. Quando ela não dá a mão. Quando ela não dá beijinhos. Quando ela cospe a sopa. Quando ela é ela e mostra que já é tão mais do que eu imaginei. É isso. Ela ultrapassa os limites do que eu imaginei que fosse. Mas é mais do que sonhei que seria. Precisamente por ser tão mais. Tão ela.

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    1. Também são nossos filhos, mas antes de mais já são eles mesmo.
      Depois podemos sempre ir buscar uma boneca, para brincarmos a como pensavamos que ia ser. ;)

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